sábado, 27 de outubro de 2007

Vírus: Gripes e Constipações



Como os “chapéus”, vírus há muitos

Existem muitos vírus, responsáveis por doenças distintas e de gravidades muito variáveis. Nesta época do ano o mais falado é o vírus da gripe. A gripe é uma infecção respiratória grave provocada pelo vírus Influenza do qual existem vários serotipos.
Este vírus é transmitido pelo ar (quando falamos, espirramos ou tossimos expelimos gotículas que transmitem o vírus quando estamos contagiados) e tem um período de incubação de 3 a 4 dias, isto é, só passado 3 ou 4 dias após a contaminação apresentaremos os sintomas da doença provocada pelo vírus.
Os sintomas aparecem de forma repentina com febres altas (38-40ºC), dores musculares, dores de cabeça e só depois as queixas respiratórias como a tosse, expectoração, nariz congestionado ou a pingar, e dores de garganta ou garganta irritada.
A duração do tratamento é de 5 a 7 dias, e este é dirigido aos sintomas (antipiréticos, antitússicos, descongestionantes..). Também existem antiviricos usados na prevenção e tratamento da gripe; de prescrição médica devem ser tomados no primeiro dia de infecção e ajudam a atenuar os sintomas e diminuem a duração da doença e o risco de complicações ( ex: pneumonias).

Os antibióticos não são úteis no tratamento da gripe porque só actuam sobre bactérias e o agente patogénico da gripe é um vírus

Além dos medicamentos deveremos ingerir líquidos, repousar e ter uma alimentação correcta, manter o espaço onde nos encontramos arejado e evitar mudanças de temperatura.

Mas a grande arma conta a gripe é a prevenção. Prevenir é também VACINAR

Qualquer pessoa pode ser vacinada excepto as que tenham história de reacção alérgica á vacina ou que são alérgicas ao ovo. Embora a vacinação esteja sobretudo recomendada aos grupos mais frágeis (idosos, pessoas com sistema imunitário diminuído, doentes crónicos como diabéticos, doentes cardiovasculares, insuficientes renais ou hepáticos, bebés com historia de doenças respiratórias, trabalhadores da área da saúde ou que cuidam de idosos ou doentes) a verdade é que a vacina pode ser tomada por todos, e quantas mais pessoas estiverem prevenidas mais difícil se torna a propagação da gripe.

A gripe é diferente de uma constipação

As constipações embora sejam também infecções viricas são provocadas por uma classe diferente de vírus, sendo o principal o rinovirus. Os sintomas são parecidos com os da gripe e por isso existe muita confusão na população acerca da eficácia da prevenção da gripe por vacinação. Na realidade os sintomas da constipação são resultantes principalmente da afecção das vias respiratórias superiores (nariz e garganta) com espirros olhos lacrimejantes, fadiga, dores de cabeça e dores musculares moderadas e febres baixas. Ou seja os sintomas não são tão agudos e a sua evolução é em geral benigna. As constipações acontecem em média 3 a 4 vezes por ano. Não existem medicamentos específicos para tratar as constipações, e geralmente actua-se aliviando os sintomas com ajuda de antipiréticos, anti-inflamatórios e descongestionantes nasais.
Os vírus que causam constipações entram pelo organismo pela boca e nariz. Boas regras de higiene ajudam a prevenir o contágio. Assim:
Lave as mãos frequentemente, principalmente depois de se assoar, tossir, espirrar e antes de comer.
Use lenços de papel para tapar a boca quando vai espirrar ou tossir. Se não for possível cubra a boca com a mão e depois lave-a.
Não partilhe talheres, copo ou prato com outra pessoa.
Evite contacto prolongado com pessoas constipadas; e se estiver constipado evite estar perto de pessoas saudáveis para não as contaminar.


Bom Inverno!


terça-feira, 23 de outubro de 2007

Cordão umbilical, fonte de vida


Células estaminais
Criopreservação


O que são células estaminais?

As células estaminais são células que têm a capacidade de se diferenciarem em diversos tipos celulares (pluripotentes) e de se auto renovarem.


A criopreservação é uma técnica de preservação destas células, em que as mesmas são preservadas a temperaturas muito baixas (-200ºC), permitindo manter as suas características originais e a sua funcionalidade durante muitos anos.

A descoberta do potencial curativo destas células remonta a 1988, podendo ser usadas com êxito em doenças graves (potencialmente letais) do foro hemato-oncológico (ex: leucemia linfoide, anemia aplastica, anemia de Faconi, etc).

Podemos encontrar células estaminais em vários tecidos corporais como por exemplo na medula óssea, células embrionárias, etc. No entanto o sangue do cordão umbilical é cada vez mais uma alternativa á medula óssea pois a sua recolha é fácil (técnica não evasiva), feita durante o parto (sem dor nem para o bebé nem para a mãe), existem menores riscos de infecção e quando necessária a sua disponibilização pode ser imediata, além de que quando compatíveis o risco de rejeição é menor.

Em Portugal não existe nenhum banco público de dadores de células estaminais.
Existem no entanto várias empresas privadas a trabalhar na recolha e armazenamento de células estaminais do sangue umbilical.

Em todo o mundo já foram realizados cerca de 7000 transplantes com células estaminais do cordão umbilical. Em Portugal foi há pouco realizado o 1º transplante com células estaminais de sangue umbilical preservado por uma empresa portuguesa.

Existem ainda várias potencialidades na utilização curativa destas células, linhas de investigação que estão a ser seguidas em diferentes países do mundo, permitindo perspectivar grandes avanços nesta área, nomeadamente em doenças crónicas como Diabetes, Alzheimer, Osteoporose, etc.

É também com grande orgulho que vemos entre a primeira linha destes cientistas, investigadores portugueses que com o seu trabalho diário e dedicação, procuram levar mais longe a ciência e escrever nela o nome de Portugal:
- Doutor Lino Ferreira (MIT- Massuchusetts Institute of Technology – actualmente a investigar na area da engenharia de tecidos),
- Doutora Alexandra Capela (SteamCells, Inc- área das doenças neurodegenerativas e transplantes células estaminais neurais)
- Professor doutor Rui Reis (Grupo 3B- Universidade do Minho- engenharia de tecidos humanos, expansão de células estaminais)
- Professor doutor Joaquim Cabral ( Instituto Superior Técnico - expansão de células estaminais mantendo o seu potencial de diferenciação)

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Dias de Paixão e Liberdade


Sem querer fazer qualquer juízo de valor em verdade vos digo:

A única forma de evitar as infecções sexualmente transmissíveis é não ter comportamentos de risco. Ter COMPORTAMENTO DE RISCO é relacionar-se sexualmente com alguém sem estar protegido, sem usar preservativo.
Teoricamente não existem grupos de risco mas sim comportamentos de risco. Existem grupos que por frequentemente utilizarem comportamentos de risco estão mais expostos.
Ter ou não ter um comportamento de risco é uma decisão única e exclusivamente individual. Sempre que se tem que tomar essa decisão dever-se-á pensar nos prós e nos contras e saber se vale a pena arriscar. Mas fique a saber que basta uma relação não protegida com uma pessoa infectada (que é igual a qualquer outra pessoa, sem nenhum rótulo na testa) para eventualmente ser contaminado.
Vários estudos realizados em Portugal sobre esta matéria, mostram que as infecções sexualmente transmissíveis (HIV, Hepatite B e C, etc.) estão a aumentar principalmente entre os heterossexuais, com relações ditas estáveis de meia-idade (40-50 anos) ou mais velhos.
Se a decisão é única e exclusivamente individual ela torna-se particularmente relevante quando assumida dentro de uma dita relação estável em que a ocultação de comportamentos de risco pode por em perigo a vida de terceiros.


Por isso façam sexo com quem quiserem, como e quando quiserem mas façam-O de uma forma SEGURA.

USE PRESERVATIVO

sábado, 9 de junho de 2007

Há mar e mar, há ir e voltar....


Já cheira a Férias, Praia e Sol…

Quem toma medicamentos, principalmente para doenças crónicas, em que a medicação entra na rotina do dia a dia, não se lembra de associar algumas possíveis reacções adversas, á interacção entre os medicamentos e a radiação solar.

Designa-se por fotossensibilidade, á reacção adversa cutânea que se apresenta como resposta á interacção dos raios solares com substâncias fotossensibilizantes que se encontram á superfície da pele. Existem factores individuais, formulações e condições de exposição á radiação solar que predispõem ao desencadear da reacção.

Chama-se atenção para o facto das vias de administração das substâncias não se restringirem á aplicação tópica (sobre a pele), mas sim a todas as vias de administração, já que depois de chegarem á corrente sanguínea os fármacos espalham-se por todo o corpo.

Dependendo do mecanismo de acção envolvido podemos ter reacções:

Fototóxicas – caracterizam-se por eritema, dor, sensação de queimadura, lesões tecidulares. São geralmente reacções dose-dependentes (quanto maior a quantidade de fármaco/sol maior a lesão) e se pararmos a medicação e/ou exposição solar desaparece.

Fotoalergicas – são menos comuns, geralmente requerem uma exposição prévia ou prolongada ao composto fotossensibilizante, manifestando-se por rash, prurido intenso que pode mesmo persistir após retirarmos agente causador.

Por isso se faz medicação habitual redobre a protecção, siga com mais cuidado as normas de segurança de exposição solar. Não se exponha ao sol entre 12h-16h.

Eis alguns fármacos em relação aos quais há descrição de reacções de fotossensibilidade:
alprazolam (benzodiazepina); ciprofloxacina e outras quinolonas, sulfonamidas, tetraciclinas (antibacterianos); ac. valpróico, carbamazepina (antiepilépticos) ; diltiazem, nicardipina, captopril (antihipertensores); amitriptilina, doxepina (antidepressivos triciclicos).

Se tem dúvidas pergunte ao seu farmacêutico.


quinta-feira, 31 de maio de 2007

O Futuro que é Presente e foi Passado


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A importância da descodificação do genoma humano (www.ornl.gov/hgmis) na área do medicamento:
Tal como tem acontecido em grandes descobertas cientificas, a descoberta de um caminho trás mais perguntas do que certezas. No entanto podemos tirar algumas conclusões e alguns (muitos benefícios) da evolução, bem como explicar alguns fenómenos cuja explicação era genérica mas que agora podemos concretizar.

Conclusões:
O tamanho de genoma não se correlaciona com o número de genes (as razões para o tamanho do genoma e nº de genes não são conhecidas, mas por exemplo no sapo o genoma é menor do que o humano mas expressa um maior numero de genes). O que sabemos é que existem inúmeras sequências repetidas no genoma humano. O número de genes é muito inferior ao esperado.
Sabemos que somos muito mais iguais do que imaginávamos, isto é, somos idênticos uns aos outros em 99,99% em termos de ADN.
Sabemos que um gene codifica várias proteínas e que é importante a sua “ vizinhança genómica” no desempenho das suas funções.
Sabemos que existem o dobro das mutações nos homens relativamente ás mulheres.
Sabemos ainda que as mutações pontuais ou polimorfismos num único nucleótido (SNPs), mutação no código genético que ocorre em mais de 1% da população, são responsáveis por cerca de 90% da variabilidade individual, que faz com que:

Haja variabilidade na resposta a fármacos

Haja diferentes susceptibilidades a tóxicos

Haja patologias complexas

O que já sabemos permite-nos fazer um diagnóstico mais eficiente de algumas patologias, a detecção precoce da predisposição para a doença, e o design racional de novos fármacos baseados nos genes (farmacogenómica).

A Farmacogenómica estuda a contribuição da variabilidade em múltiplos genes (ou em todo o genoma) na variabilidade de resposta aos fármacos.

Os polimorfimos genéticos levam a alterações na farmacocinética e fármacodinâmica responsáveis por alterações na resposta aos fármacos (maior ou menor toxicidade, maior ou menor efeito terapêutico, etc.).
Ou seja o futuro que é já presente vai permitir que a terapêutica seja o mais personalizada possível em função do genótipo do doente, procurando desta forma optimizar o efeito terapêutico, reduzindo os efeitos adversos, aumentar a eficácia reduzindo os custos. Estes benefícios são já presente em algumas patologias (cancro) em que o diagnóstico diferencial genético (Microarray- chip ADN), permite o tratamento diferencial entre indivíduos doentes, sendo prescrito determinado tratamento apenas e só aqueles cujos tumores sobreexpressem o receptor para o factor de crescimento epidermal (HER2), (25-30% dos pacientes).

Este novo caminho, como todos os novos caminhos terá que ultrapassar muitos obstáculos, tanto de carácter científico-económico, como ético. Implicará o uso de “guidelines” de prescrição, formação dos técnicos de saúde, maior informação para o doente, maior alerta para as interacções medicamentosas, regulamentação, comparticipação, racionalização de custos, farmacovigilância.

Mas o Futuro é sempre uma porta aberta para novos mundos….

(resumo de uma palestra dada por Prof. Dr. Sérgio Simões da F. Farmácia da U. Coimbra sobre as realidades e perspectivas da terapêutica genética nas actividades relacionadas com o medicamento – ssimoes@ci.uc.pt)

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Balcão


Anos noventa, licenciatura fresca, com muita teoria e pouca prática, cabeça cheia de nomes de princípios activos, e sem registo de nomes comerciais, chego ao balcão da Farmácia. Entra um cliente jovem, aproxima-se do balcão e diz-me:

_ Bom dia, queria uma caixa de fósforos.

Retorqui:

_ Bem ... diz o ditado que há de tudo como na Farmácia, mas caixa de fósforos vai ter que ir ao supermercado!!

Deparo-me com uma cara tingida de vermelho.

-Bem, o que eu queria é um pacote de camisinhas de” Vénus”.

Lá o atendi. Venho para dentro e viro-me para a Guida contando-lhe o sucedido.
Resposta:

- Sabe, é que antigamente havia uns preservativos embalados numas caixas em tudo semelhantes ás caixas de fósforos, por isso é habitual haver estes pedidos…


História real, meados 1990.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

INTERACÇÕES


“Chá das 5”

Que existem interacções entre vários medicamentos, não é novidade para ninguém, já faz parte do censo comum. Só que ás vezes as pessoas esquecem-se das interacções que podem existir entre os medicamentos e as plantas. Uma simples infusão pode arrastar uma complicação….

"…a co-administração de Hipericão e anticoncepcionais (chá de hipericão, também conhecido como erva S.João), por um mecanismo ainda desconhecido, mas que pode envolver a redução da absorção, bem como acelaração da “clearence” das hormonas, devido á indução da glicoproteina-P intestinal (glicoproteína de transporte), e a metabolização pelo citocromo CYP450 3A4 (intestinal/hépatico), por constituintes do hipericão diminui a sua eficácia. Os pacientes devem ser advertidos para a possibilidade de atrasos menstruais e gravidez não desejada. Pelo que o uso de contracepção adicional é recomendado.
Foram reportados alguns casos de atrasos menstruais, após adição de hipericão em pacientes usando anticoncepcionais a longo prazo. Um caso de gravidez não desejada foi reportado. Estudos clínicos em voluntárias do sexo feminino também demonstraram um aumento da incidência de atrasos menstruais durante a administração concomitante de anticoncepcionais de baixa dosagem e o hipericão."
Evite complicações. Pergunte ao seu farmacêutico .